
Se você
ainda chora ou pelo menos se comove com certas canções, se você ainda olha, com
carinho, para coisas obsoletas como a lua cheia, se você, ao conhecer certos
locais incríveis, ainda pensa que irá lá um dia com seu amor, sinto muito, mas
eu devo avisar: você está no século errado.
Século errado?! É, século errado. Peça o seu de volta, acho que se
enganaram. Você é romântica, isso não se faz mais. Ninguém entende, é como
falar chinês no Mineirão, vão olhar para você com perplexidade, talvez com
pena.
Os séculos, minha amiga, mudam de idéia, mudam de roupa. O romantismo é uma
roupa que não cabe mais. Fica apertada, a perna aparece, ou então fica
lamentavelmente larga, grande, excessiva. Aliás, faz tempo que é assim.
Lamartine Babo, compositor que trouxe a música brasileira de volta ao
caminho da simplicidade, era um romântico incorrigível. Depois de receber
cartas inteligentes e bem escritas de uma jovem de Boa Esperança chamada Vera,
tomou um ônibus para ir conhecê-la, embora ela tenha dito que o encontro
pessoal não seria possível. Chegando na cidade, ninguém quis dizer nada sobre a
identidade da garota, embora todos rissem misteriosamente ao desconversar.
Disposto a desvendar o segredo, Lamartine se dispôs a conversar com a menos
sedutora das moças presentes. Ela, então, revelou-lhe o segredo: a inteligente
autora das cartas, por quem Lamartine estava apaixonado, era o irmão dela,
professor de Latim.
Pior: toda a cidade sabia do caso, e se divertia às custas dele. O tal
professor chegava a ler em público, no clube da cidade, as respostas
enternecidas de Lamartine. Nem por isso o genial compositor perdeu o bom humor,
censurando-se apenas: "Bem feito, Lamartine! Quem mandou ser
romântico?"
O melhor é ser duro, seco, impassível. Nem faça cara feia, leitora, a culpa
não é minha, é do século. Faça como aquele colunista sentimental do jornal.
Conhece a história? Foi assim. Uma mulher, desesperada porque encontrou o
marido com outra, escreveu para a coluna sentimental do jornal. O problema é
que a coluna era escrita por um homem. Ela escreveu dizendo: "Pelo amor de
Deus, me ajude! Estava indo para o trabalho quando meu carro, sem nenhum
motivo, deixou de funcionar. Peguei um táxi e voltei para casa. Encontrei,
perplexa, meu marido na nossa cama com uma aluna dele, de vinte anos. Por
favor, me ajude!"
Resposta do colunista: "Deve ter sido falta de combustível ou a injeção
eletrônica. Procure um mecânico."
Fonte: Crônica do Dia: QUEM MANDA SER
ROMÂNTICA? Felipe Peixoto Braga Netto