segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Receita para mim, de Helena

 

Helena cismou em me entregar uma lição, que embora antiga, sempre me parece um pouco estranha...
Oh Helena, será mesmo que, falando tais coisas, contribuirá para minha metamorfose à mulher que julgas ideal? Por óbvio, diz ela.
Saiba, de pronto, que a mulher precisa ser doce, gentil, sutil, genial.
Precisa conhecer alguns idiomas, se almejar êxito na vida, e falar todas as línguas, se o quiser lograr no amor.
Essa mulher precisa beijar, pacientemente, a fronte que no ímpeto a despreza. Porque tem ela, a consciência de que só poderá mostrar seu verdadeiro encanto, se for capaz de insistir naquele afago tão nobre, tão seu.
Precisa cantar; Depois, desenhar o passeio feito ao lado do ser amado. E desenhar também a alma do doutor e do empregado.
Só lhe permitirá cair dos olhos uma lágrima. Esta mesma que disfarçará com maestria, como faz a barriga da mulher quando na primeira semana de gestação.
Amará em segredo, se o amor escolhido lhe for proibido. Amará também em segredo, se esse amor se lhe apresentar como bom. (Acredite: quem revela o amor que faz o coração palpitar, tende a destruir muito fácil o encanto que seus mistérios construíram lentamente).
Será dama, fera, coragem, companhia. Será o bom conselho, a incansável serva. Será candura e diversão.
Com ousadia, também será a mãe das contradições.
E por isso não se explicará.
Porque, na verdade, sabe bem que, aquilo que saltar aos muitos olhos, nada mais poderá ser, do que as tramas de suas múltiplas linhas bordadas. Bordado complexo; arte pouco compreensível, como assim o é o sentir do amor.
De todas essas coisas, recomendo somente uma: cultive, sem receio, mulher, o amor da singela e graciosa menina! E vomite sem pensar, menina, aquele amor ilimitado e quente da valente mulher...


* P.S - Estes são traços, das conclusões que tive, observando o agir e o sentir de mulheres que teimam em me ensinar a também ser uma! Como fez, inexplicavelmente, a Helena de Machado de Assis. São traços que vou tomando delas em troca de deixar, pelo caminho, pedaços dos meus que não me parecem mais tão úteis. Ou que já me causaram muito sofrimento. São esses, seus deliciosos (e eficazes) dizeres...

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