sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Insatisfação nas criaturas



“Para qualquer parte que se volte a alma humana, é à dor que se agarra, se não se fixa em Vós, ainda mesmo que se agarre à belezas existentes fora de Vós e de si mesma. Estas nada teriam de belo, se não provessem de Vós. Nascem e morrem. Nascendo, começam a existir, crescem para se aperfeiçoarem , e quando perfeitas, envelhecem e morrem. Nem tudo envelhece, mas tudo morre. Por isso, os seres, quando nascem e se esforçam por existir, quanto mais depressa crescem para existir tanto mais se apressam a não existir.” 

(Santo Agostinho, em Confissões)

O sofrimento do outro é sempre menor!



“Acho que a maioria de nós tem isso, esse hábito potencialmente destrutivo de manter registros mentais que se acumulam, se distorcem, depois se quebram e se espalham até os confins mais distantes da razão e da consciência. O que fazemos é acumular a dor, coleciona-la como peças de vidro vermelho. Nós a exibimos, a empilhamos. Até que ela se torna uma montanha na qual podemos subir, esperando e exigindo emparia e salvação. ‘Ei, está vendo isto aqui? Está vendo como é grande a minha dor?’ Nós olhamos para as pilhas dos outros, as medimos e gritamos: ‘Minha dor é maior que a sua’”.

(Marlena de Blasi, em: Mil dias em Veneza).

Amamos o belo


"Amamos nós alguma coisa que não seja o belo? Que é belo, por conseguinte? Que é a beleza? Que é que nos atrai e afeiçoa os objetos que amamos? Se não houvesse neles certo ornato e formosura, não nos atrairiam?"

(Santo Agostinho, em "Confissões")

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Vivendo de futuro



Foi precisamente essa perda de contato com o passado, nosso desenraizamento, que deu origem aos "descontentamentos" da civilização, a uma pressa e uma agitação tão grandes que vivemos mais no futuro com suas quiméricas promessas do que no presente, cujo passo acelerado nosso pano de fundo evolucionário não aprendeu ainda acompanhar. Precipitamo-nos impetuosamente novidade adentro, guiados por um senso cada vez mais acentuado de insuficiência, de insatisfação e de inquietação. Não vivemos mais daquilo que temos, vivemos de promessas; deixamos de viver à luz do presente e passamos a viver nas trevas de um futuro que, esperamos, trará o aguardado amanhecer. Recusamo-nos a reconhecer que toda coisa melhor é comprada ao preço de uma coisa pior.
Carl Jung em Memories, Dreams and Reflections (1957)
(Citado por Paulo Brabo em "A Forja Universal") 

domingo, 18 de novembro de 2012

O que sou?


O que mais me envergonha e entristece, é saber que já não sou mais quem eu sou. Não! Nem quem fui! As esquinas; Essas tantas esquinas... Será em qual me deixei? Em qual delas me esqueci?

domingo, 11 de novembro de 2012

Fúria!

 

A fúria já está aí
 Latente, vibrante.
Resta-lhe apenas ganhar o universo inteiro.
Fúria bem trabalhada é isso...
Um sinalizador de Novos Horizontes,
Um celeiro de boas vontades.
Um cintilar de perspectivas.
É sua ponte.
Essa fúria é estrada reta,
É vanguarda que derruba o retrocesso da ilusão.

(Devaneios sem sentido; madrugada de 11 de novembro de 2012)

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Amar é...


“‎Amar é ter um pássaro pousado no dedo. Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento, ele pode voar.” 


terça-feira, 23 de outubro de 2012

Eu me delato, tu me relatas...


"Eu vou te contar, que você não me conhece...
E eu tenho que gritar isso porque você está surdo e não me ouve!
A sedução me escraviza a você,
Ao fim de tudo você permanece comigo, mas preso ao que eu criei e não a mim.
E quanto mais falo sobre a verdade inteira, um abismo maior nos separa...
Você não tem um nome, eu tenho.
Você é um rosto na multidão e eu sou o centro das atenções.
Mas a mentira da aparência do que eu sou é a mentira da aparência do que você é.
Por que eu , eu não sou o meu nome, e você não é ninguém!
O jogo perigoso que eu pratico aqui, ele busca chegar ao limite possível da aproximação Através da aceitação da distância e do reconhecimento dela.
Entre eu e você existe a notícia que nos separa.
Eu quero que você me veja nua, eu me dispo da notícia.
E a minha nudez parada, te denuncia e te espelha...
Eu me delato, tu me relatas,
Eu nos acuso, e confesso por nós.
Assim, me livro das palavras,
Com as quais você me veste . " 

(Fauzi Arap)

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Entenda minha melancolia...



"A melancolia não é um estado depressivo. Pode ser ou não. Não é isso que a define. A melancolia é o estado de alma que nos aproxima do peso e do número das coisas. É o estado necessário para a compreensão íntima da música. Uma pessoa que afaste a melancolia nunca será - notam a aliteração? - um melómano, porque não apreende intuitivamente os números e as grandezas - e a música não é mais que grandezas puras em diálogo, onde apenas o timbre se insinua como elemento concreto a contaminar de realidade material um objeto feito de vibrações e de tempo. Enquanto que os estados despreocupados e luminosos nos conduzem à unidade do real, a melancolia conduz à multiplicidade definida de cada instante, como acontecerá a um cego que se orienta, no mundo, guiado pelas dimensões exatas e relações espaciais definidas e de preferência não alteráveis. O melancólico vê em cada acidente do real a excepção, sem desejar sistematizar o mundo em regras mais ou menos constantes e, por isso, evita a ação por lhe faltarem os instrumentos com que poderia redistribuir o real. Para o melancólico, o número é a quantidade contemplável mas alheia a qualquer manipulação ou operação."

Melancolia, de Albrecht Dürer

Texto publicado em: http://literaturas.blogs.sapo.pt/

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Peso




Circular. Igual era o assovio do vento.
De brasa. Desse modo se vestia minha cama.
Pesados. Senti assim meus pensamentos.
Secos. De outro modo não estavam os meus olhos.
Gelada. Era essa a minha postura.

Sem visão



No dia em que você deixou para trás
O riso incessante da menina,
Ser mulher lhe pesou.
Doeu o corpo,
Chorou a alma, ofuscou o amor.
Ficou sem visão,
E só por isso, se perdeu.

Ventania



Chorei meu luto quanto notei que até mesmo o vento sofria por eu ser desprezível. Na ânsia de impedir minha triste conduta, ele trazia poeiras, revirava velhos retratos, apagava luzes, derrubava muros e, violentamente, atormentava meu entendimento.