terça-feira, 5 de novembro de 2013

Sobre minha fé...

 

"(...) Não tenho como recomendar a crença; sua única façanha é nos reunir em agremiações, cada uma crendo-se mais notável do que a outra e chamando o seu próprio ambiente corporativo de espiritualidade. Não tenho como endossar a crença; não devo dar a entender que a espiritualidade pode ser adequadamente transmitida através de argumentos e explicações. Não devo buscar o conforto da crença; o Mestre tremeu de pavor e não tinha onde reclinar a cabeça. Não devo ouvir quem pede a tabulação da minha crença; minha fé não é aquilo em que acredito.
Nunca deixa de me surpreender que para o cristianismo Deus não enviou para nos salvar um apanhado de recomendações ou uma lista suficiente de crenças, mas uma pessoa. Minha espiritualidade não deve ser vivida ou expressa de forma menos revolucionária. Não pergunte em que acredito. Mande um email, pegue uma condução, venha até minha casa, tome um café na minha mesa e aceite o meu abraço. Não devo esperar ato maior de fé, e não tenho fé maior para oferecer."

(Paulo Brabo, em: "Minha fé não é aquilo em que acredito")

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O tempo é Deus


O tempo é Deus
Que se dá aos pedaços
No passar das horas.
E, por isto,
Homem do tempo, amo a vida.
Pois sei que, ao envelhecer
Me divinizo.

(Padre Daniel Lima)
 
(Revista Bravo! – março de 2012. Ilustração: Zé Otávio)
Postado originalmente em: http://velhotaeu.blogspot.com.br/

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

E assim serei plenamente 'realizada'...

 

"(...) O chamado do progresso absolutamente não me move, mas a atração de uma vasta e suficiente imobilidade pode finalmente me arrastar. Saquei que sou o cara mais pretensioso que conheço, porque minha ambição é obscena e inatingível e é bastar-me: é não ter pretensão alguma.
Hoje não ignoro que minha ambição é existir para a tarefa simples e exigentíssima de realizar-me: nada fazer e nada desejar além do singular ofício de mim. Existir para o que amo e para quem amo e calar tudo que não seja eu.
Hoje enxergo claramente o que deveria ter sido óbvio desde o início: só vou ser um cara realizado quando estiver finalmente realizando coisa alguma."

Paulo B.
Em: "A arte de realizar-me".
Link para o texto integral: http://www.forjauniversal.com/2013/a-arte-de-realizar-me/

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Os grandes homens ajudam os demais!

 

"A constância em rir dos defeitos alheios é um sinal de pusilanimidade, pois os grandes homens estão sempre propensos a ajudar os demais em seus infortúnios e a comparar-se apenas com os mais capazes." 

(Hobbes, in "Leviatã")

E somente no vazio, o vôo acontece!



"Para voar é preciso ter coragem para enfrentar o terror do vazio. Porque é só no vazio que o vôo acontece. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Mas é isso o que tememos: o não ter certezas. Por isso trocamos o vôo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram." 

(Rubem Alves)

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Trago o peito entulhado de sentimentos...


Os meus pés estão descalços, minhas mãos estão vazias. Trago o peito entulhado de sentimentos sem adjetivos possíveis. Um coração desestabilizado, terrível. A tarde rasga a pele do tempo e o sol desaba sua claridade em meus olhos. Choro. Meus cabelos estão desgrenhados, meus lábios ressecados pela avidez daquele beijo. Flutuo atravessando muros abstratos, fotografias abandonadas por seus porta-retratos e cadernos sem caligrafias. Transito em transe por ruas desabitadas, por pontes que não promovem encontros. Sou amada por algumas pessoas insípidas que precisam me enfiar em alguma gaveta vazia. Os abrigos me abismam. Hoje estou dura, crua, fria. Hoje estou maldosamente agressiva. Impulsionada a causar feridas, mas não conseguindo exercer com destreza o lado mau que há em mim. Magoei de maneira estabanada, não ganhei absolutamente nada, me dói tudo por dentro, me arrependo, e levo meses para me perdoar pela ferida que abri e que deixei ardendo. Meu lirismo fugiu de mim, larguei ao relento. E eu me sinto deslocada, pois me desabituei a ser assim, a estar assim. Mas quero desaçucarar minha imagem, borrar o rímel da paisagem, derrubar minhas lágrimas presas, tirar a maquiagem das certezas.
E isto é só o começo... ou o fim.
 
("Sem afeto", de Marla de Queiroz)

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

E eu desejei uma viagem diferente...



Muita vez, e eu ainda não compreendo bem as razões... penso que seria estranho e infiel dizer que se trata de um desligamento temporário, ou mesmo de uma fuga planejada. Não, não é isso! Não é justo condenar o hoje por suas naturais incompletudes e limitações, nem vale a pena se distanciar de suas respectivas incongruências, mas o fato é que sinto vontade de revisitar algumas paisagens. É! 
Tornar a ver a face do tempo que já não existe mais. Enxergar pessoas, aspirar os aromas envolventes de outrora, recordar dos objetos, da intensidade dos sentimentos, dos sabores deliciosos da comida e das histórias. 
Hoje aconteceu! Então, sem hesitar, selecionei algumas canções, preparei meu espírito e fiz minha viagem.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

"A informação nos adoece"



(...) Chamo "a atenção para um dos grandes males de nossa época: a dependência da informação. Nos tornamos uma geração de viciados em comunicação. Quanto mais, mais. E, como qualquer outro entorpecente, a informação só nos faz ficar cada vez mais doentes. Nosso vício, como qualquer outro, requer porções cada vez maiores para nos dar um mínimo de gratificação. A informação está nos adoecendo, nos embrutecendo.

De certo modo, admiro a fala (sincera) de quem, estando numa roda que comenta o assunto do dia, diz: “Não ouvi ou li nada a respeito, não sei do que se trata”. A desinformação não é de tudo ruim."

(Sóstenes Lima em: "A informação nos adoece". O texto completo está disponível em: http://www.sosteneslima.com/2013/01/a-informacao-nos-adoece.html)

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Deus me quis assim... Mulher!



E Deus me fez mulher,
De cabelos longos,
Olhos,
Nariz e boca de mulher.
E rugas
E suaves funduras
E me cavou por dentro,
Fez de mim uma incubador de seres humanos.
Teceu delicadamente meus nervos
E balanceou com cuidado
O número de meus hormônios.
Compôs o meu sangue
E me injetou com ele
Para que irrigasse
Todo meu corpo;
Nasceram assim as idéias,
Os sonhos,
O instinto...
Tudo o que criou suavemente
A marteladas de sopros
E perfurações de amor,
As mil e uma coisas que me tornam mulher todos os dias
E pelas quais me levanto orgulhosa
Todas as manhãs
E bendigo meu sexo.

(Gioconda Belli - Traduzido por Antônio Miranda)