quinta-feira, 26 de julho de 2012

A felicidade em ser pobre...


“(...) Minha infância foi vivida na pobreza. A princípio grande pobreza. Depois, pobreza simplesmente. Desses anos não tenho uma única memória infeliz. Tive dores, como toda criança tem: dor de dente, dor de tombo, dor de barriga, dor de queimadura. Mas não tive experiência de infelicidade.
Minha infelicidade começou quando a vida melhorou e nos mudamos de uma cidade do interior de Minas para o Rio de Janeiro. Meu pai me matriculou num colégio de cariocas ricos. Foi então que, como Camus, senti vergonha da minha pobreza e da minha família: eu era diferente, não pertencia ao mundo elegante dos meus colegas. (...)
O sofrimento da pobreza, quando não é miséria, se encontra na comparação. A miséria é diferente da pobreza. A pobreza está muito próxima da simplicidade. Simplicidade tem a ver com as coisas que são essenciais. Simplicidade é caminhar com uma mochila leve. A riqueza, ao contrário, é caminhar arrastando muitas malas pesadas, sem alças…
A pobreza simples é uma pobreza feliz. Feliz porque leve. É a comparação, origem da inveja, que a torna infeliz. Camus e eu experimentamos a infelicidade da comparação na escola. Mas hoje não é preciso ir à escola para sentir a sua maldição. Basta ligar a televisão. A televisão é uma máquina de infelicidade, na medida em que ela nos obriga a comparar. Os pobres, nos lugares mais distantes, ligam as novelas e sentem a sua desgraça. A comparação é um exercício dos olhos: vejo; estou feliz.”

Trecho do Livro “Ostra feliz não faz pérola”

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Acomoda-te!


"Trata de saborear a vida;
e fica sabendo, que a pior filosofia é a do choramingas
que se deita à margem do rio para o fim de lastimar o curso incessante das águas.
O ofício delas é não parar nunca;
acomoda-te com a lei, e trata de aproveitá-la."

terça-feira, 10 de julho de 2012

Compreender é esquecer de amar!



"Para compreender-me, destruí-me. Compreender é esquecer de amar. (...) A solidão desola-me; a companhia oprime-me. A presença de outra pessoa descaminha-me os pensamentos; sonho a sua presença com uma distracção especial, que toda a minha atenção analítica não consegue definir".

Será este o problema?

 
“Mulheres tem um ótimo instinto a respeito das coisas. Elas podem descobrir tudo, menos o óbvio.”

Só precisava de uma voz...


“Eu precisava de uma voz para me impedir de entrar em pânico. Você faz coisas estranhas quando se sente vazio por dentro”.

 
(Do filme: Setembro, Woody Allen)

Convém!


"Convém em certas ocasiões, ocultar o que se traz no coração."

 
(Moliére)

É melhor que eu fique no meu canto.


"Eu fico no meu canto e não me exponho embora ponha a alma na janela. Eu fico de vigília e não me espanto mas cuido de observar e às vezes canto."

 
[Marina Colasanti]

Faz de conta


"...faz de conta que ela nao estava chorando por dentro - pois agora mansamente, embora de olhos secos, o coração estava molhado."

Neste lugar, ninguém pode tirar você de mim!


 

Existe um lugar onde
Ninguém pode tirar você de mim....
Este lugar chama-se pensamento
E nele você me pertence.
 

(Charles Chaplin)

E renascendo...

 

"Eu sou o caule 

dessas trepadeiras sem classe, 

nascidas na frincha das pedras: 

Bravias. 

Renitentes. 

Indomáveis. 

Cortadas. 

Maltratadas. 

Pisadas. 

E renascendo."


sexta-feira, 6 de julho de 2012

Pensou que amou!



 “Antero chegou. Antes não tivesse vindo. Talvez assim eu continuasse mergulhada no desejo de sua presença. Tê-lo ao alcance das mãos desencadeou meu desencanto. (...) Eu já sabia de suas intenções. Foram dois anos de correspondência trocada com regularidade espartana. (...) Antero estava em cada frase. No papel, o peso de sua alma. Falas embebidas de amor e promessas de fidelidade. Tudo me tocava. (...) Durante o tempo das cartas eu o quis, eu o desejei, eu o amei. Desembrulhei em cada envelope recebido um detalhe de homem que se encaixava perfeitamente ao contexto de minhas expectativas. E por isso amei o amor distante, o beijo ausente, o abraço imaginado. (...) Acendi o fogo da paixão. Revesti Antero de perfeição.
Por isso augurei ardentemente o seu retorno. Queria tomar posse daquela terra prometida, findar meu êxodo, meu exílio. Ansiava por ver chegar o homem que abriria o Mar Vermelho de minha vida (...).
Chovia muito na manhã de sua chegada. (...) Abri a porta com o intuito de desvanecer o sentimento aterrador, mas imediatamente senti desabar as estruturas do sonho edificado. O Antero real não era o mesmo Antero das cartas. (...) Nenhuma distância se desdobrava de seu corpo, nenhum mistério ardia em seus olhos.
Minha contradição. Eu, que tanto reclamava em cartas a urgência de seu retorno, de repente, estava ali, desejosa de que ele reencontrasse a estrada que o trouxera. Eu, que augurei o entrelaço de seus braços, o calor de seu hálito a segredar-me confissões amorosas, o toque libidinoso de sua conduta de homem, via-me ali, aterrada no desconforto de minhas desilusões, vendo ser mitigadas as esperanças que durante tanto tempo alimentaram minha alma e a fizeram sobrevivente.
(...) Queria livrar-me daquela imposição material, virar-lhe as costas, reassumir o sossego do amor ausente, a carícia não cumprida, voltar a habitar o imaginado caminho que nunca nos permiti chegar.
O alimento do amor é a espera. A realização do desejo esgota a chama que o alimenta. O ausente desejado é infinitamente superior ao real recém-chegado. (...)
O meu desprezo fez do coração de Antero a casa da aflição.  (...)
Mas eu ainda espero é pelo Antero das cartas, aquele homem imaginado, distante, albergue onde se alojavam todos os mistérios do mundo, o homem miraculoso que visitava minha alma e nela espargia cestos fartos de esperança.
(...) No ventre de minhas ausências, eu gestei um homem, um intruso que se alimentava de minhas expectativas (...) É por ele que anseio todos os dias.
(...)O homem que amo não nasceu. (...) Olho para o meu rosto no espelho e descubro. Esse homem que tanto amo, espero e desejo sou eu mesma.”



Trecho de "O desapontamento do Amor" – Orfandades
Pe. Fábio de Melo