quarta-feira, 25 de abril de 2012

Tuas palavras...


Tuas palavras antigas
Deixei-as todas, deixeia-as,
Junto com as minhas cantigas,
Desenhadas nas areias.

Tantos sóis e tantas luas
Brilharam sobre essas linhas,
Das cantigas — que eram tuas —
Das palavras — que eram minhas!

O mar, de língua sonora,
Sabe o presente e o passado.
Canta o que é meu, vai-se embora:
Que o resto é pouco e apagado.

domingo, 22 de abril de 2012

Desordem



A noite resolveu se tornar uma constante...
Todas as ideias estão fora de lugar
Desconheço os gostos, gestos e sabores preferenciais;

Deixei num canto distante
A utilidade da caneta que agora jaz no bolso;
Na mão, ou na bolsa que esconde os segredos da boca...

Parece-me haver alguma mudança
Instância, inconstância,
Ou distância                      de mim...

Fiz algumas malas de trapos, fardos e farrapos.
Quando (e se) eu voltar,
Conto os detalhes da viagem;
Explico também os motivos de meu regresso...
Publico o retrato de quaisquer novos espaços.



Um parto, de um rápido e desordenado desabafo
Noite de 22/04/12

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Quando resolvo partir...



 (...) Meu adeus foi ético. Passei a evitar a parceria de gente a quem eu jamais confiaria a carteira. Eu tinha que partir. (...)
Quero reaprender a viver. Vou buscar a trilha onde menos homens e mulheres andam de dedo em riste. Anseio por fazer-me amigo de gente espirituosa, leve, risonha, que sabe desafogar a alma.
Por condescendência, alguém disse que não sou teólogo, apenas poeta.  Apesar de não me achar digno de ser chamado poeta, sorri de felicidade. Que honra! Poetas não acendem fogueira. Tenho certeza que Miguel de Serveto gostaria de ver-se na companhia de trovadores.
Pretendo amar e apreciar, sem extravagância, as coisas mínimas: o tirocínio dos meninos, o desabrochar da paixão na menina em flor, a conversa de bons amigos. E no final do dia, ao rever as horas, saber celebrar a paixão de simplesmente existir.
Saio para instruir-me na adoração. Necessito transformar genuflexão em serviço. Quero descer do alto dos meus privilégios e estender a mão ao mortiço que jaz em alguma estrada poeirenta. Desisti de uma espiritualidade que se contenta em implorar favores à Divindade. Em minha partida, acalento o desejo de encarnar Deus. E assim dizer: não vivi em vão.
 
(Trecho de "Por que parti", por Ricardo Gondim. Disponível em: http://www.ricardogondim.com.br/estudos/porque-parti/)

O que, com amor, peço...



Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar
                                                                     [ extático da aurora.


Toda "Ternura" de Vinícius

Quero meu século de volta!



Se você ainda chora ou pelo menos se comove com certas canções, se você ainda olha, com carinho, para coisas obsoletas como a lua cheia, se você, ao conhecer certos locais incríveis, ainda pensa que irá lá um dia com seu amor, sinto muito, mas eu devo avisar: você está no século errado.

Século errado?! É, século errado. Peça o seu de volta, acho que se enganaram. Você é romântica, isso não se faz mais. Ninguém entende, é como falar chinês no Mineirão, vão olhar para você com perplexidade, talvez com pena.

Os séculos, minha amiga, mudam de idéia, mudam de roupa. O romantismo é uma roupa que não cabe mais. Fica apertada, a perna aparece, ou então fica lamentavelmente larga, grande, excessiva. Aliás, faz tempo que é assim.

Lamartine Babo, compositor que trouxe a música brasileira de volta ao caminho da simplicidade, era um romântico incorrigível. Depois de receber cartas inteligentes e bem escritas de uma jovem de Boa Esperança chamada Vera, tomou um ônibus para ir conhecê-la, embora ela tenha dito que o encontro pessoal não seria possível. Chegando na cidade, ninguém quis dizer nada sobre a identidade da garota, embora todos rissem misteriosamente ao desconversar. Disposto a desvendar o segredo, Lamartine se dispôs a conversar com a menos sedutora das moças presentes. Ela, então, revelou-lhe o segredo: a inteligente autora das cartas, por quem Lamartine estava apaixonado, era o irmão dela, professor de Latim.

Pior: toda a cidade sabia do caso, e se divertia às custas dele. O tal professor chegava a ler em público, no clube da cidade, as respostas enternecidas de Lamartine. Nem por isso o genial compositor perdeu o bom humor, censurando-se apenas: "Bem feito, Lamartine! Quem mandou ser romântico?"

O melhor é ser duro, seco, impassível. Nem faça cara feia, leitora, a culpa não é minha, é do século. Faça como aquele colunista sentimental do jornal. Conhece a história? Foi assim. Uma mulher, desesperada porque encontrou o marido com outra, escreveu para a coluna sentimental do jornal. O problema é que a coluna era escrita por um homem. Ela escreveu dizendo: "Pelo amor de Deus, me ajude! Estava indo para o trabalho quando meu carro, sem nenhum motivo, deixou de funcionar. Peguei um táxi e voltei para casa. Encontrei, perplexa, meu marido na nossa cama com uma aluna dele, de vinte anos. Por favor, me ajude!"

Resposta do colunista: "Deve ter sido falta de combustível ou a injeção eletrônica. Procure um mecânico."

 
Fonte: Crônica do Dia: QUEM MANDA SER ROMÂNTICA?  Felipe Peixoto Braga Netto

quarta-feira, 18 de abril de 2012

De repente, essa oração precisou gritar...



 
Senhor, faça-me um instrumento de vossa paz.
Lá onde há ódio, que eu coloque amor.
Onde há ofensa, que eu leve o perdão.
Lá, onde há discórdia, que eu coloque a União.
Lá onde há erro, que eu leve a verdade.
Que, havendo dúvida, eu leve a fé.
Lá, onde há desespero, que eu deposite esperança.
Lá onde há trevas, que eu leve Sua luz.
Onde há tristeza, que eu faça realizar a alegria.
Ó Mestre, que eu não mais procure ser consolado do que consolar, 
Ser compreendido do que entender,
Ser amado do que amar. 
Porque é dando que se recebe, 
É perdoando que se pode ser perdoado 
E é morrendo que se revive, para a vida eterna.



São Francisco de Assis orou assim...
Quis orar também!
E não é preciso ser religioso para tentar SER um HUMANO melhor, 
Com a obeservância de tão humildes palavras, com a observância de tão desafiadoras propostas.