segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Uma alegria à la Japonesa

 
Já tinha ouvido dizer que o amor mora nos lugares mais distantes, onde poucos vão, porque simples, ou muito pequeninos...
As melhores experiências de amor (que vivi) tiveram como palco casas pequenas, (barracos, talvez), ruas sem pavimentação, becos e corredores sem muito encanto. Do mesmo modo, devo dizer sobre seus protagonistas;
Normalmente, são mulheres de cabelos despenteados, homens de pés descalços, crianças de corações desnudos.
Por assim entender esse amor, o qual muitos esperam com adornos e perfumes mil, é que resolvi derramar aqui uma pequena gota, a mesma que me banhou certa feita.
Morei no interior de São Paulo por pouco mais de seis meses. Porém, o tempo, embora pareça curto, foi suficiente pra depositar sementes de amor em mim.
Fui pra lá com o intuito de estudar. Não conhecia absolutamente nada. Nem pessoas, nem lugares. Jamais tinha saído de casa (sozinha) antes. Não para tão longe assim.
Por tal motivo, imaginei que a nova vida se apresentaria para mim de forma dura, cruel. Mas confesso que tudo ocorreu de modo avesso: em Americana conheci pessoas lindas, receptivas, de olhos (e coração) puros, dispostas a distribuir gentileza para sois e flores.
Uma experiência curtinha, em especial, marcou profundamente meus dias.
O fato é que, precisando trabalhar para me manter longe de casa e, gota a gota, alcançar parte da tão sonhada independência, inventei de apresentar meus dotes de moça-manicure às moçoilas paulistas.
E, justo no labor, é que fui mais feliz naquela doce cidade!
Certa vez, atendi a uma senhorinha oriental, (uma legítima japonesa) que era um poço de simpatia! Eu a conheci por meio de sua filha, que por sua vez, soube de mim por conta de algumas vizinhas que eu atendia com frequência.
Estar na casa daquela senhora foi algo diferente de tudo que eu já havia experimentado. Ela era uma senhora calma, porém muito falante. Sua aparência, como é de praxe dos povos do lado de lá, era jovial. Tinha cabelos muito negros e saltitava feito uma menina.
Ao tempo em que eu cuidava de suas unhas, ela, pouco interessada em observar os serviços que eu prestava, contava-me, cheia de encanto e luz no olhar, sobre os acontecimentos de sua vida.
Narrou suas idas ao Japão e, à medida que desenhava isso pra mim, sua voz parecia se transfigurar para um tom infinitamente mais doce do que o habitual. E todo o conjunto daquela mulher vibrante e alegre (que dançava, na cozinha de sua casa) exalava uma nostalgia diferente: algo que, ao mesmo tempo em que permitia transparecer a saudade das suas raízes, impossibilitava a entrega das alegrias vividas, ao peso de não mais poder estar entre os seus.
Era mulher que não deixava o amor no passado, nem tampouco o guardava para o futuro. Ela queria mesmo era sorrir para os visitantes, mostrar que a vida pode ser um universo muito mais colorido e atraente do que aquilo que a gente só quer enxergar nos sonhos.
Não sei o nome dela. Não consigo me recordar. Mas me lembro perfeitamente do gosto do baião de dois, que ela fez especialmente pra mim. Como aquilo era bom!
E, mais do que isso, como é bom tê-la em minha lembrança!
Tenho a plena convicção de que, se eu mudei, se meus afetos ficaram mais sensíveis, se minha vista enxerga mais o outro, após meu regresso à Bahia, essa senhora é uma das responsáveis.
Por ora, permaneço com a lembrança do baião de dois e com o conselho de uma nobre oriental: “siga em frente, minha filha. Seja grande, vença, sem jamais se esquecer de sorrir!”

2 comentários:

  1. Ainda existem lugares não explorados nessa menina...Eu não sabia dessas gotas de orvalho que caíram na bela flor, nem tampouco como isso foi significativo pra você...Belíssima descrição...

    Catiti

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