Minha infelicidade começou quando a vida melhorou e nos
mudamos de uma cidade do interior de Minas para o Rio de Janeiro. Meu pai me
matriculou num colégio de cariocas ricos. Foi então que, como Camus, senti
vergonha da minha pobreza e da minha família: eu era diferente, não pertencia
ao mundo elegante dos meus colegas. (...)
O sofrimento da pobreza, quando não é miséria, se encontra
na comparação. A miséria é diferente da pobreza. A pobreza está muito próxima
da simplicidade. Simplicidade tem a ver com as coisas que são essenciais.
Simplicidade é caminhar com uma mochila leve. A riqueza, ao contrário, é
caminhar arrastando muitas malas pesadas, sem alças…
A pobreza simples é uma pobreza feliz. Feliz porque leve. É
a comparação, origem da inveja, que a torna infeliz. Camus e eu experimentamos
a infelicidade da comparação na escola. Mas hoje não é preciso ir à escola para
sentir a sua maldição. Basta ligar a televisão. A televisão é uma máquina de
infelicidade, na medida em que ela nos obriga a comparar. Os pobres, nos
lugares mais distantes, ligam as novelas e sentem a sua desgraça. A comparação
é um exercício dos olhos: vejo; estou feliz.”
Trecho do Livro “Ostra feliz não faz pérola”
Trecho do Livro “Ostra feliz não faz pérola”
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