sábado, 8 de outubro de 2011

Estender também as mãos


Eu sou mesmo assim: gosto de me sentar às margens...
Gosto de estar entre aqueles que a poucos olhares atraem.
Amo os gestos simples, a fala arrastada, o português pouco polido.
Amo os risos sem modos, sem freios, livres de qualquer tipo de preocupação, 
Amo os pés descalços, o contato com o chão, com o pó.
Gosto da criança pequena, que diz o que pensa, mostra o que sente e não se envergonha, nem tampouco se importa em entender o mundo dos adultos.
Gosto mesmo é do pobre, do mal cuidado, do mal amado.
E fico entre eles, pois deles saí. Pois igualzinha a eles eu sou,
Pois, olhando suas mãos estendidas, consigo perceber que, para além das necessidades materiais, elas querem mesmo é ser encontradas, por outras mãos, para, assim, apertá-las e delas receber um doce afago.
E fico com eles, ainda que não entenda o porquê, ainda que,  para eles, eu não tenha ofertado nada além de um largo sorriso, ou de um profundo olhar, ou de um breve sentir.
O que sei  é que prefiro estar com eles. É que prefiro colocar meus pés no chão e me sentar às margens...

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Nilmara Carvalho

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