sexta-feira, 20 de abril de 2012

Quando resolvo partir...



 (...) Meu adeus foi ético. Passei a evitar a parceria de gente a quem eu jamais confiaria a carteira. Eu tinha que partir. (...)
Quero reaprender a viver. Vou buscar a trilha onde menos homens e mulheres andam de dedo em riste. Anseio por fazer-me amigo de gente espirituosa, leve, risonha, que sabe desafogar a alma.
Por condescendência, alguém disse que não sou teólogo, apenas poeta.  Apesar de não me achar digno de ser chamado poeta, sorri de felicidade. Que honra! Poetas não acendem fogueira. Tenho certeza que Miguel de Serveto gostaria de ver-se na companhia de trovadores.
Pretendo amar e apreciar, sem extravagância, as coisas mínimas: o tirocínio dos meninos, o desabrochar da paixão na menina em flor, a conversa de bons amigos. E no final do dia, ao rever as horas, saber celebrar a paixão de simplesmente existir.
Saio para instruir-me na adoração. Necessito transformar genuflexão em serviço. Quero descer do alto dos meus privilégios e estender a mão ao mortiço que jaz em alguma estrada poeirenta. Desisti de uma espiritualidade que se contenta em implorar favores à Divindade. Em minha partida, acalento o desejo de encarnar Deus. E assim dizer: não vivi em vão.
 
(Trecho de "Por que parti", por Ricardo Gondim. Disponível em: http://www.ricardogondim.com.br/estudos/porque-parti/)

2 comentários:

  1. Quando resolves partir, abusa da graça elegante da pressa, e deixa os rastros encobertos para que ninguém te siga e só tu saibas como, quando e por onde voltar...

    Catiti

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    Respostas
    1. Obrigada pelo comentário, minha flor-de-lis.
      Tudo bem, amo partir...
      Mas, por favor, se isso causar grandes males (para mim, para ti, para todos os meus) ensina-me a permanecer. Ensina-me a enterrar profundamente as raízes, para que, escolhendo rumar para outros horizontes, eu leve apenas alguns galhos, folhas e flores da árvore que sou eu...

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