(...) Meu adeus
foi ético. Passei a evitar a parceria de gente a quem eu jamais confiaria a
carteira. Eu tinha que partir. (...)
Quero reaprender a viver. Vou
buscar a trilha onde menos homens e mulheres andam de dedo em riste. Anseio
por fazer-me amigo de gente espirituosa, leve, risonha,
que sabe desafogar a alma.
Por
condescendência, alguém disse que não sou teólogo, apenas
poeta. Apesar de não me achar digno de ser chamado poeta, sorri de
felicidade. Que honra! Poetas não acendem fogueira. Tenho
certeza que Miguel de Serveto gostaria de ver-se na companhia de trovadores.
Pretendo amar e apreciar, sem
extravagância, as coisas mínimas: o tirocínio dos meninos, o desabrochar
da paixão na menina em flor, a conversa de bons amigos. E no final do dia, ao
rever as horas, saber celebrar a paixão de simplesmente existir.
Saio para instruir-me na
adoração. Necessito transformar genuflexão em serviço. Quero descer do
alto dos meus privilégios e estender a mão ao mortiço que jaz
em alguma estrada poeirenta. Desisti de uma espiritualidade que se
contenta em implorar favores à Divindade. Em minha partida, acalento o desejo
de encarnar Deus. E assim dizer: não vivi em vão.
(Trecho de "Por que parti", por Ricardo Gondim. Disponível em: http://www.ricardogondim.com.br/estudos/porque-parti/)
Quando resolves partir, abusa da graça elegante da pressa, e deixa os rastros encobertos para que ninguém te siga e só tu saibas como, quando e por onde voltar...
ResponderExcluirCatiti
Obrigada pelo comentário, minha flor-de-lis.
ExcluirTudo bem, amo partir...
Mas, por favor, se isso causar grandes males (para mim, para ti, para todos os meus) ensina-me a permanecer. Ensina-me a enterrar profundamente as raízes, para que, escolhendo rumar para outros horizontes, eu leve apenas alguns galhos, folhas e flores da árvore que sou eu...