domingo, 16 de outubro de 2011

Falta II



Sentia saudade de quando as tardes eram mais longas.
Sentia falta de sorrir despreocupada e de gracejar inocentemente.
Sentia saudade do jogo, do desenho, do amor.
A maior falta era do choro que libertava, das brigas impensadas, da volta, da união, da irmandade.
Sentia saudade de correr na chuva, também de se irritar com o vento que balançava, no corpo, a saia rodada.
Mas também do sol ardente que, bem no meio do dia, lhe queimava a face e levava para o céu todas as tristezas e obrigações da manhã que se despedia.
Sentia saudade da rotina: papel e caneta na manhã, contra uma bola e milhões de risos na tarde.
Sentia falta de brincar de ser grande, de chamar a atenção, de deixar florir o amor, de deixar brilhar o olhar.
Sentia saudade das dúvidas, dos medos, de poder pensar, ainda que timidamente, no primeiro amor.
Sentia saudade de ter 3, 7, 14 anos.
Sentia falta, pois jamais pensou em desatar o nó, não pensou em desfazer os laços.
Não pensou que, de todas essas coisas, fosse ela, ainda hoje, sentir tanta falta...
**
Nilmara Carvalho

2 comentários:

  1. A tarde agora é pequena para tanto sonho, para tanta espera...A saia rodada já se encurtou, o jogo da tarde não gira mais na mesma frequência, o brincar de ser grande virou uma realidade sem volta.Caneta? Papel? Desenho? Sentíamos a mão sorrir, sentíamos o cheiro da folha ora branca, ora amarelada..O desenho não é mais tão divertido e cheio de sonhos como outrora. E tudo se esvai..E a falta vai virando uma ausência triste e pesada para o coração...
    Catiti

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  2. ai...mara muito lindo...me identifiquei muito mesmo...melhor....acho que nós nos identificamos com ele ,ne...bjo minha maninha...

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